Vivemos tempos sombrios, e a cada dia isso é esfregado em nossas caras, tornando uma tarefa difícil conseguir manter a fé no ser humano. De origem pobre e acostumada às batalhas da vida, Rafaela Silva, campeã olímpica no Rio-2016 e mundial dos pesos-leve (-57kg), teve um reencontro com essa dura realidade nesta quinta-feira, dia 22.
Rafaela chegava de viagem ao Rio de Janeiro, cidade onde mora e que passa por uma intervenção militar que tem como justificativa a crise na segurança. A bordo de um táxi a caminho de casa, a judoca viu o veículo ser seguido e parado pela polícia sem nenhum motivo aparente. Ela então foi às redes sociais narrar a abordagem. Taxista levado para um lado, ela para outro, perguntas de praxe – o que faz, de onde vem, para onde vai –, até que o policial a reconhece e libera os dois. O mais impressionante, no entanto, acontece quando ela volta para o carro e o motorista começa a contar o que foi dito a ele. Para o oficial, ele confirmou que buscara Rafa no aeroporto e que a estava levando para Jacarepaguá, ao que ouviu como resposta: “Achei que tinha pego (sic) na favela”.
Tal diálogo levanta algumas questões pertinentes à nossa sociedade. Se fosse uma mulher branca no carro, o táxi teria sido parado? Os policiais teriam achado que ele vinha da favela? Mais importante ainda, qual o problema se estivesse vindo da favela? O espanto, e porque não dizer a revolta, aumenta ainda mais ao ler comentários nos posts da atleta que tentam minimizar e simplificar a situação. Rafa é campeã de seu esporte, conhecida, tem voz e pode ser ouvida, e mesmo assim está sujeita ao preconceito cotidiano. Já parou para pensar como é para milhares de anônimos que enfrentam esse mesmo cenário diariamente? Como a própria atleta perguntou, até onde vai esse preconceito?
Veja abaixo os tuítes de Rafaela Silva sobre o ocorrido:
Chegando hoje no Rio de Janeiro, peguei um táxi pra chegar em casa! No meio da av Brasil um carro da polícia passar ao lado do táxi onde estou e os policiais não estava com uma cara muita simpática, até então ok
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Continuei mexendo no meu celular e sentada no Táxi, daqui a pouco ligaram a sirene e o taxista achou que eles queriam passagem, mas não foi o caso, eles queriam que o taxista encostasse o carro
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Quando o taxista encostou eles chamaram ele pra um canto, quando olhei na janela outro policial armado mandando eu sair de dentro do carro, levantei e sai, quando cheguei na calçada ele outro pra minha cara e falou… trabalha aonde?
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Eu respondi… não trabalho, sou atleta! Na mesma hora ele olhou pra minha cara e falou… vc é aquela atleta da olimpíada né? Eu disse… sim, e ele perguntou… mora aonde? Eu falei, em Jacarepaguá e estou tentando chegar em casa
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Na mesma hora o policial baixou a cabeça entrou na viatura e foi embora! Quando entrei no carro novamente o taxista falou que o polícia perguntou de onde ele estava vindo e onde ele tinha parado pra me pegar
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
E o taxista respondeu… essa é aquela de judo, peguei no aeroporto e o polícia falou… ah tá! Achei que tinha pego na favela.
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Isso tudo no meio da av Brasil e todo mundo me olhando, achando que a polícia tinha pego um bandido, mas era apenas eu, tentando chegar em casa
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
Esse preconceito vai até aonde? 😰
— Rafaela Silva (@Rafaelasilvaa) 22 de fevereiro de 2018
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