Há quase dois anos o campeão paralímpico de natação Andre Brasil se viu impedido de competir por causa de mudanças na classificação de sua deficiência que o tornaram inelegível para o esporte que pratica desde 2005. O atleta move uma ação contra o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) pedindo sua reclassificação, e uma decisão sobre o caso deveria ter sido dada na terça-feira. No entanto, a Corte Regional de Colônia, na Alemanha, que julga o caso, adiou a resposta para o dia 9. Até o momento, o IPC não comentou a questão.
Mesmo já tendo passado por outras classificações ao longo da carreira, em abril de 2019 Andre teve de se submeter a uma nova avaliação. O nadador sempre pertenceu à classe S10, para aqueles que apresentam o menor comprometimento físico-motor, mas ficou impedido de competir depois que duas bancas de especialistas não o consideraram apto para as provas de nado livre, costas e borboletas, liberando o atleta apenas para disputas de nado peito, que não é sua especialidade.
“Estou esperançoso para que a justiça, de certa forma, seja feita e entendam que estamos falando de um sistema subjetivo, de um esporte que caminha a passos curtos na classificação [funcional]”, afirmou Andre à Agência Brasil.
Para competir na natação paralímpica, os atletas são avaliados dentro e fora da água, sendo que sua pontuação pode chegar a 300, que seriam os pontos de uma pessoa sem deficiência de locomoção. O máximo que um atleta pode atingir para que seja considerado apto são 285. Andre somou um ponto a mais na reclassificação de 2019.
“Tive a pontuação necessária [para continuar na classe S10] fora da água. Por conta de um movimento no tornozelo [na perna esquerda, dentro da água], de zero a cinco pontos [possíveis], recebi três. Isso deu um ponto a mais, que me tira do esporte. Um ponto pelo olho nu de alguém. Quando trago para a ciência, exames em máquinas específicas mostram que o mesmo movimento é nulo [comparado ao de nadadores sem deficiência]. Se é nulo, é zero. Não tenho movimento de lateralidade [no pé]”, explicou André.
Vítima de poliomielite aos 3 meses de vida, o nadador ficou com uma diferença de cinco centímetros de uma perna para a outra como sequela. Além disso, ele não apresenta sensibilidade, força e equilíbrio na perna esquerda, tendo passado por sete cirurgias durante a infância, mas que não foram capazes de corrigir a lesão.
“Nos meus primeiros Jogos [Paralímpicos, em Pequim, na China] em 2008, nadei para 51 segundos nos 100 metros livre. Foram mais ou menos dois, três segundos de vantagem para o segundo. Dois ciclos depois, a gente tinha cinco, seis, atletas nadando na casa dos 51 segundos. Minha deficiência não mudou. Estou sendo julgado em cima de uma habilidade construída no esporte, não na deficiência. Ninguém me explicou, cientificamente, porque estou fora”, emendou ele, que é dono de sete ouros e Paralimpíadas. Andre agora terá de esperar até a próxima terça-feira para saber qual será seu futuro no esporte competitivo.
Foto: Reprodução/Instagram Andre Brasil
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