Eu amo esporte. Sou capaz de ficar cinco horas vendo uma partida de tênis ou passar o final de semana todo sentada no sofá só para curtir tudo o que está acontecendo no mundo esportivo. Por isso, Jogos Olímpicos e Copa do Mundo costumam ser um verdadeiro parque de diversões para mim.
Porém, os Jogos Olímpicos de Tóquio foram diferentes, por inúmeras razões. Para isso, eu vou voltar no tempo e contar um pouco da minha história. Em 2016, uma briga entre a minha chefia na época impediu que eu trabalhasse na cobertura da Olimpíada do Rio de Janeiro. Fui obrigada a sair de férias e acabei viajando na metade da competição para amenizar a minha frustação. Longe do Brasil, me senti frustrada e distante do que acontecia no Parque Olímpico carioca.
No ano seguinte, eu fui diagnosticada com transtorno de ansiedade e comecei a fazer tratamento. Cheguei a parar no hospital duas vezes. Sentia muito medo de me sentir ansiosa. Todo mundo que é apaixonado por esporte sabe o que é ficar ansioso antes e durante uma competição. Esse medo me travou e não conseguiu vivenciar a Copa do Mundo de 2018 como gosto de fazer.
Depois do Mundial da Rússia, o Olimpitacos começou a ganhar contornos mais profissionais e com objetivos mais claros. O foco era todo em Tóquio. Tínhamos muitos planos, mas eles desmoronaram. Reerguermos, fizemos novos planos e novamente uma nova devastação com a chegada da pandemia e o adiamento em um ano.
Novamente, eu amo esporte, mas não sou alienada e sei da situação gravíssima que o mundo ainda enfrenta por causa da pandemia, principalmente o Brasil por ter um governo negacionista que optou por tratamentos sem comprovação científica a comprar vacinas (sim, vacinas salvam vidas!). A Olimpíada parecia ter perdido o sentindo para mim, não conseguia concordar com o simples adiamento, era preciso cancelar.
No isolamento, sentindo muito e tendo crises de ansiedade, foi assim que eu vivi a indecisão sobre a realização ou não dos Jogos Olímpicos. Eu ainda seguia firme na opinião que não deveriam acontecer. Quando a competição foi confirmada, não consegui ficar feliz. Na semana da cerimônia de abertura, eu ainda me sentia indiferente. Esse sentimento me machucava. ‘Você ama esporte, como você não está feliz que vai começar a Olimpíada?’.
E o amor, amigos, ele realmente sempre vence. Já me emocionei logo no começo da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, foi um reencontro. As máscaras e os inúmeros protocolos não deixaram esquecer a pandemia, mas me permitiram vivenciar apenas o esporte por duas semanas, sem o peso de contar histórias de mortes e de medo.
Eu voltei a ser feliz durante a Olimpíada. Quando eu me dei conta disso, meio que até sem querer, comecei a me questionar onde foi a mudança da chave. A resposta está em todo o trabalho que eu fiz durante o isolamento. Os atletas, que parecem que precisavam de uma parada obrigatória, falaram muito em ser feliz. Acho que é essa a chave, a gente descobriu na pandemia que temos que buscar a felicidade, que ela depende da gente e está dentro de cada um, afinal foi nos tirado qualquer outa possibilidade de distração.
O debate sobre saúde mental levantado por Simone Biles acabou como uma forma de acolhimento para mim. Se a maior ginasta da história sobre com isso, por que eu não vou sofrer? Se ela tem a coragem de falar sobre isso no maior evento do mundo, porque eu vou ter vergonha?.
O tema Biles entrou para as minhas pautas, li muito a respeito, debati muito sobre o tema e percebi que tinha caminhado muito desde o início da minha maratona contra ansiedade. Porém, diferente da prova mais nobre do atletismo na Olimpíada, a vitória da minha maratona não tem linha de chegada. O triunfo estar cada vez mais distante da linha de partida.
Por tudo isso, muito obrigada, minha terapeuta! Muito obrigada, minha psiquiatra! Muito obrigada, família! Muito obrigada, amigos! Muito obrigada, Olimpíada! Muito obrigada, esporte!
*Crédito da foto: Reprodução/Instagram/Tokyo 2020
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