A pouco menos de seis meses para os Jogos de Tóquio, muitas dúvidas ainda pairam sobre a realização da Olímpiada no Japão. Em meio a incertezas, a crescente insatisfação dos japoneses, o aumento dos casos de infectados pelo novo coronavírus no país e a demora para o início da vacinação, uma reportagem do jornal britânico The Times causou apreensão ao afirmar que o governo japonês já havia decidido pelo cancelamento dos Jogos e buscava uma maneira de romper o seu contrato com o Comitê Olímpico Internacional (COI) de forma amigável e, assim, manter a chance de receber a Olimpíada em 2032.
Abaixo, listamos algumas dúvidas e o que se tem de posicionamento oficial até o momento:
Sem Plano B
O alemão Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), está otimista (até demais para o cenário atual) e confia que a pira olímpica será acesa no dia 23 de julho no Estádio Nacional em Tóquio.
“Não temos, neste momento, nenhuma razão para acreditar que os Jogos Olímpicos de Tóquio não começarão em 23 de julho no Estádio Olímpico de Tóquio”, disse Bach à Kyodo News. “É por isso que não existe um plano B, e é por isso que estamos totalmente comprometidos a tornar estes Jogos seguros e bem-sucedidos”, acrescentou.
Japoneses insatisfeitos
Acabou o amor. Os japoneses, que estavam superentusiasmados com a realização da Olimpíada em seu país, agora demonstram desagrado e preocupação. De acordo com pesquisa recente realizada pela agência Kyodo News, 80% da população local já são a favor do cancelamento ou de um novo adiamento dos Jogos.
Segundo o levantamento, 35,3% dos japoneses pediram o cancelamento enquanto 44,8% afirmaram que a Olimpíada deveria acontecer em outra data. Os números da pesquisa também mostraram a insatisfação de 68,3% dos japoneses com as medidas do governo para combater o novo coronavírus.
Vai furar a fila da vacinação? OMS diz que não…
A vacina contra o novo coronavírus é a grande esperança para salvar os Jogos de Tóquio. No entanto, o processo de imunização é lento e não deve ser concluído até o meio do ano. Por isso, especulou-se a possibilidade de os atletas furarem a fila. Porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já descartou essa ideia.
“Temos que encarar a realidade do que enfrentamos agora. Não há vacina suficiente no momento para atender aqueles que estão em maior risco”, afirmou o chefe de emergências da OMS, Mike Ryan. “Enfrentamos agora uma crise em escala global que exige que os profissionais de saúde da linha de frente, os idosos e os mais vulneráveis em nossas sociedades tenham acesso à vacina primeiro”, acrescentou.
Diante deste cenário, o Comitê Organizador declarou que “espera que a vacina seja dada ao maior número de pessoas possível”, tanto no Japão como em atletas estrangeiros .
“Temos de ter muita paciência com os preparativos da vacina. Cada país tem as suas próprias medidas sanitárias, pelo que ainda é necessário discutir diferentes cenários futuros antes de se chegar a conclusões”, disse Toshiro Muto, CEO do Comitê Organizador.
Com público ou sem público?
Se alguém algum dia imaginou que a Cerimônia de Abertura de uma Olimpíada ou a final dos 100m rasos poderiam acontecer sem a emoção e a vibração da torcida, Tóquio-2020 está bem perto de se tornar a primeira edição da maior festa do evento mundial sem a presença de público.
A decisão ainda não está tomada, mas dificilmente teremos estrangeiros nas arquibancadas caso elas sejam abertas aos torcedores. A justificativa está nos protocolos e restrições impostas pela pandemia, além da dificuldade de um processo de vacinação em massa.
No momento, os japoneses podem acompanhar partidas de futebol e de beisebol. Com estádios com capacidade reduzida, o público é obrigado a manter o distanciamento social e também precisa segurar a emoção. A orientação é para evitar gritos, impedindo a contaminação por meio de partículas de saliva.
A decisão final só será tomada nos próximos meses. “Acho que teremos que tomar uma decisão muito difícil entre fevereiro e março”, disse Yoshiro Mori, presidente do Comitê Organizador.
Prejuízo bilionário
E quem vai pagar a conta? Depois do adiamento, o orçamento dos Jogos de Tóquio explodiu. A nova data gerou um custo adicional de cerca de US$ 3 bilhões (R$ 15 bilhões). Com isso, a conta já bateu a casa dos US$ 13 bilhões, ou seja, a fortuna de R$ 65 bilhões.
Essa conta deve ser dividida entre o governo japonês e o COI. A única chance de amenizar o prejuízo seria com a renda da bilheteria, o que dificilmente vai acontecer ou ficará muito abaixo da expectativa com a presença de apenas público local.
Déjà vu… Negação de Organizadores e COI lembra 1º adiamento
Incertezas, negação e suspense… Tudo isso também te traz uma sensação de dèjá vu? O cenário lembra (e muito) o período que antecedeu o adiamento dos Jogos de 2020 para 2021.
Foi no dia 24 de março de 2020 que o COI e o governo japonês anunciaram a mudança de data da Olimpíada. Na época, no entanto, vários países já viviam crise de saúde em decorrência da pandemia da covid-19 e adotavam o lockdown para conter o avanço do vírus.
No cenário atual, um novo adiamento não é visto como uma possibilidade pelo COI e organizadores. Com isso, ou a Olimpíada acontece ou está será a quarta vez que uma edição dos Jogos é cancelada. As outras três não foram realizadas em virtude das duas Grandes Guerras (1916, 1940 e 1944).
*Crédito da foto: Reprodução/Instagram/Tóquio 2020
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