Há pouco mais de um ano, também na Austrália, Andy Murray emocionava o mundo do tênis ao explicar em um post comovente por que não disputaria o ATP de Brisbane e, consequentemente, o Australian Open, revelando toda a sua batalha contra uma impiedosa lesão no quadril, que o levaria a passar por uma temida e até então evitada cirurgia. Na última quinta-feira à noite (horário de Brasília), durante uma não menos emocionante coletiva de imprensa em Melbourne, o britânico confirmou o que todos temiam ouvir em algum momento: ele perdera a briga com o próprio corpo, a dor tornou-se companheira constante, já não conseguia ser o tenista de antes e só lhe restava pendurar a raquete.
Em meio a lágrimas, Andy contou que irá disputar o Aberto da Austrália e que pretende se despedir definitivamente do tênis em Wimbledon, sua casa e onde é bicampeão, mas não descartou a possibilidade de o Grand Slam australiano ser o seu último torneio da carreira. Não demorou muito para que o ex-número 1 do mundo começasse a receber homenagens de seus colegas e amigos de circuito. De Rafael Nadal, Juan Martín del Potro e Grigor Dimitrov a Kim Clijsters, Andy Roddick e Billie Jean King, já aposentados, entre muitos outros, todos demonstraram sua admiração por ele.
“Por favor, não pare de tentar. Continue lutando. Posso imaginar a sua dor e tristeza. Espero que você possa superar isso”, pediu Delpo, ele mesmo vítima de consecutivas contusões e cirurgias no punho. “Tiro meu chapéu para Andy Murray. Lenda absoluta, um dos melhores estrategistas da história. Resultados absurdos em uma era brutal”, escreveu Roddick no Twitter.
Dono de talento inegável e temperamento muitas vezes incontrolável, Murray foi grandíssimo numa época que vem sendo dominada pelos gigantes Nadal, Roger Federer e Novak Djokovic, como indicou Roddick em seu tuíte. Entre suas muitas conquistas, destacam-se os três títulos de Grand Slam (duas vezes Wimbledon e um Aberto dos EUA), os dois ouros olímpicos (Londres-2012 e Rio-2016), o título da Copa Davis em 2015, no qual teve papel imprescindível, e a conquista do topo do ranking mundial em 2016.
No entanto, Andy é o tipo de jogador cuja ausência será sentida muito além das quadras, seja por sua postura feminista ao defender a igualdade entre tenistas homens e mulheres ou por simplesmente chamar a atenção de um jornalista que ignorava as conquistas de Serena Williams durante uma coletiva, seja por sua tão natural sinceridade ou por seu senso de humor afiado. Ele mesmo costumava brincar dizendo que no Reino Unido “era considerado britânico quando ganhava, e escocês quando perdia”, piada que revelava sua inteligência ao criticar, ao mesmo tempo, a cobrança exagerada aos atletas e certo preconceito da sociedade inglesa.
É triste e injusto que um atleta tenha de se retirar precocemente por causa de uma lesão. Quando se trata de grandes como Andy Murray, o vazio deixado parece ser ainda maior, o que torna imperdível o Aberto da Austrália deste ano, que começa hoje à noite. Andy deve entrar em quadra na madrugada de segunda-feira, oportunidade para os amantes do esporte assisti-lo em ação talvez pela última vez, momento de reverenciar um campeão e seu legado e sentir a saudade chegando…
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