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O tal legado olímpico

Quando o Rio de Janeiro se candidatou, em 2008, à sede dos Jogos de 2016, fui contra. Apesar de ser uma apaixonada por esportes e, em especial, por Olimpíada, achava na época que o País tinha coisas mais importantes para se preocupar, e principalmente porque não acreditava no tal argumento do legado que seria deixado para a cidade e para o esporte olímpico brasileiro.

O Rio venceu a disputa. Como já se esperava, obras foram finalizadas nos instantes finais, mas diante da descrença de muitos de que poderíamos realizar os Jogos eu torci para que entregássemos a mais bela Olimpíada. E assim foi, começando pela emocionante cerimônia de abertura, passando pelos torcedores – onde mais no mundo o público iria torcer para o juiz porque era o único representante do país em uma luta de boxe? -, o divertidíssimo e atuante nas redes sociais mascote Vinicius, até a redenção de Rafaela Silva, ouro no judô, e Diego Hypolito, prata no solo na ginástica, apenas para citar dois momentos tocantes. Sim, foi lindo de ver!

Passado nem sequer um ano dos Jogos Rio 2016, a realidade bate na nossa cara sem piedade alguma. O tal legado, lembra?, se transformou em puro abandono, dos locais de competição, já em estado de deterioração, de atletas que perderam patrocínios e bolsas do governo, de confederações, envolvidas em escândalos e desmandos, como as de basquete e desportos aquáticos (ainda vamos falar muito disso por aqui).

Não bastasse tudo isso, o conceituado jornal francês Le Monde publicou uma reportagem falando da compra de votos para que o Rio fosse escolhido sede dos Jogos. O triste é que essa informação nem surpreende mais a nós, brasileiros, já tão acostumados com seus políticos ligados a esquemas de corrupção. Pois é exatamente isso o que temos nas nossas entidades esportivas, políticos, no pior sentido da palavra, disfarçados de amantes do esporte, pessoas que há anos olham mais para o benefício próprio do que para o crescimento e desenvolvimento do esporte olímpico nacional. Que essa reportagem seja a primeira de muitas, que ajude a derrubar dirigentes que nada fazem pelo esporte e seus atletas, que isso aconteça no Comitê Olímpico Brasileiro (COB), nas confederações e federações.

O esporte olímpico brasileiro está agonizando, e o que poderia parecer a
última pá de cal com a suspeita da compra de votos pode ser na verdade uma lufada de ar fresco que vai ajudar a limpar e a refazer esse caminho, mas o trabalho é árduo e é preciso que os verdadeiros amantes do esporte se levantem em nome de sua paixão. Talvez seja pedir muito, talvez seja um sonho ingênuo, mas eu não consigo parar de sonhar com mais Rafaelas espalhadas pelo Brasil.

Gisèle de Oliveira

Jornalista apaixonada por esportes desde sempre, foi correspondente internacional do “Diário Lance!” na Austrália, quando cobriu os preparativos para os Jogos Olímpicos de Sydney-2000, e editora do jornal no Rio de Janeiro, trabalhou na “Gazeta Esportiva” e foi colaboradora de especiais da revista “Placar”, entre outras experiências fora do universo esportivo. Mineira de nascimento, paulistana de coração, é torcedora inabalável de Rafael Nadal, Michael Phelps, Messi e Rafaela Silva. Adora tênis, natação, judô, vôlei, hipismo e curling (sim, é verdade). Sagitariana e são-paulina teimosa, agradece por ter visto a Seleção de futebol de 82 de Telê, o São Paulo também do mestre Telê, o Barcelona de Guardiola e a Seleção de vôlei de Bernardinho em seu auge. Ah, chora em conquistas esportivas, e não apenas de brasileiros.

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