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“Foi muito difícil lidar com esse momento”, diz técnico Bob Bowman sobre fase sombria de Michael Phelps

Foi somente aos 45 do segundo tempo que Bob Bowman decidiu conceder uma entrevista para o Olimpitacos. Para não perder essa oportunidade única, foi preciso driblar o trânsito de São Paulo e chegar, literalmente, correndo ao espaço de eventos do Sheraton WTC, onde acontece o Congresso Olímpico Brasileiro organizado pelo COB, neste sábado. Os cumprimentos ofegantes já serviram para quebrar o gelo inicial.

De tênis, bermuda e camiseta, um dos técnicos de natação mais importantes do mundo sentou-se para um bate-papo exclusivo e descontraído, no qual falou de seu mais importante pupilo, Michael Phelps, não deixando de comentar a fase mais sombria do multicampeão nem de abrir um enorme sorriso ao falar dos netos, Boomer e Beckett, herdeiros de Phelps.

Acostumado a ter os holofotes voltados para Phelps, coach Bowman ainda contou um pouco sobre sua rotina e seus hobbies. Confira abaixo a entrevista na íntegra com o treinador norte-americano.

Para começar, como estão seus netos?

Os meninos estão ótimos. Boomer está com quase 3 anos, dia 5 de maio é o aniversário dele, e está começando a falar agora, o que torna tudo muito mais divertido. Ele é muito ativo e está aprendendo a nadar, estou ensinando-o um pouco. Beckett acabou de fazer um ano, e também está começando a entrar na piscina, é divertido vê-lo crescer. E agora tem mais um a caminho… (Nicole, mulher de Phelps, está grávida do terceiro filho do casal)

Como é ser avô?

Eu me sinto incrível, nada é melhor do que isso. Eu os visito todo dia depois do treino e passo algumas horas com eles, é muito divertido.

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Como é a versão Phelps papai?

É muito diferente agora, é ótimo ver o quanto ele amadureceu, e é um ótimo pai. Ele é muito paciente, passa muito tempo com os garotos. Tenho muito orgulho dele porque ele realmente evoluiu como pessoa, assim como devemos fazer quando crescemos. Ele faz muita coisa atualmente fora da natação, acredito que está tendo um grande impacto nas pessoas, é muito bom assistir a isso.

Qual diferença do garoto que você começou a treinar para o Phelps de hoje?

Sua personalidade é realmente a mesma, ele é muito sério às vezes, quando está focado em algo. Mas é muito brincalhão, gosta de se divertir, e isso aparece com certa constância. Acho que ele é mais paciente agora, quando ele era mais novo era um pouco impaciente, nós dois éramos impacientes com certas coisas, ter filhos torna você mais paciente, você tem de ser. Você sabe, é preciso crescer com eles. Acho que o principal é que ele está mais centrado, sabe quem é e o que está fazendo agora. Antes, acho que ele estava perdido quando parou de nadar, e agora tem um plano muito bom. Agora ele tem a missão de promover a conscientização sobre saúde mental, segurança na água, estilo de vida saudável para crianças. Acredito que ele esteja confortável neste papel atualmente.

Como foi lidar com o momento mais sombrio de Phelps?

Foi muito difícil lidar com esse momento. Eu sou basicamente um pai para ele, e quando seu filho enfrenta uma dificuldade, você sofre também. Acho que a parte mais importante disso tudo foi como ele aceitou a situação, assumiu a responsabilidade e escolheu melhorar. Durante o tratamento, ele reconheceu as questões que causaram os problemas, seguiu em frente e hoje talvez possa ajudar as pessoas a evitar isso.

Existe alguma possibilidade Phelps voltar a competir?

Não, ele não vai voltar dessa vez. Quando se tem três filhos, você não abandona a aposentadoria.

Você acredita que outro atleta será mais vencedor do que Phelps?

Acredito que alguém será capaz de quebrar os recordes dele, mas levará muito tempo. Temos de ver o que os novos atletas são capazes de fazer. Mas Michael é um caso especial em termos de reunir tudo o que é preciso no momento certo, acho que é difícil todas essas coisas acontecerem juntas novamente.

O que faz um grande campeão?

Acredito que seja a capacidade de trabalhar no seu nível mais alto durante um tempo muito longo, realmente com consistência. Muitas pessoas podem fazer por alguns meses ou um ano, mas fazer isso por quatro, cinco, seis, dez, 20 anos é a chave. É isso que separa o Michael das outras pessoas, trabalhar em um nível muito alto por um tempo muito longo. Competir é fácil, se você treina, é o que todo mundo quer fazer.

Como é sua rotina?

Treino outros atletas, como sempre fiz, trabalho na Universidade do Arizona, sou técnico de um time de faculdade e de outros atletas olímpicos, como Allison Schmitt, estamos nos preparando para 2020. Essa é a minha rotina, e tem os meus netos.

Qual a expectativa para Tóquio-2020?

Tivemos um pouco de dificuldade na última Olimpíada, mas acho que foi um bom alerta, estamos nos organizando e preparando. Como uma nação, nós temos muito bons atletas, jovens atletas, e estou ansioso para vê-los brilhar.

O que gosta de fazer em seu tempo livre?

Além de ficar com meus netos, sou músico. Toco piano, estudei durante muitos anos, desde a idade de 10 anos até a faculdade, gosto de tocar. Estou começando também a me dedicar à jardinagem, tenho um belo jardim em casa, tenho um jardim de vegetais ao qual me dedico. Phoenix é um deserto, então é muito fácil cuidar do seu jardim no deserto, basta colocar água (risos). Estou aprendendo sobre essas plantas novas e como elas funcionam. Gosto de ler. Essas coisas básicas. Acabei de ler um livro chamado Ego Is the Enemy (O Ego É o Inimigo, em tradução livre), é um bom livro, sobre filosofia estoica e como aplicá-la a você mesmo hoje em dia, para ser uma pessoa melhor.

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Como é visitar o Brasil novamente?

Adoro vir ao Brasil. Depois da Olímpiada, eu voltei em 2017, com Michael. Infelizmente não vou poder passar mais tempo, tenho de voltar e dar treino na segunda de manhã.

Coautora Aline Küller

Gisèle de Oliveira

Jornalista apaixonada por esportes desde sempre, foi correspondente internacional do “Diário Lance!” na Austrália, quando cobriu os preparativos para os Jogos Olímpicos de Sydney-2000, e editora do jornal no Rio de Janeiro, trabalhou na “Gazeta Esportiva” e foi colaboradora de especiais da revista “Placar”, entre outras experiências fora do universo esportivo. Mineira de nascimento, paulistana de coração, é torcedora inabalável de Rafael Nadal, Michael Phelps, Messi e Rafaela Silva. Adora tênis, natação, judô, vôlei, hipismo e curling (sim, é verdade). Sagitariana e são-paulina teimosa, agradece por ter visto a Seleção de futebol de 82 de Telê, o São Paulo também do mestre Telê, o Barcelona de Guardiola e a Seleção de vôlei de Bernardinho em seu auge. Ah, chora em conquistas esportivas, e não apenas de brasileiros.

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